domingo, 23 de agosto de 2009

China pelos olhos de Othon Barcellos (meu pai)

Como muitos de vocês sabem meu pai é meu grande mentor na caminhada empreendedora, aquele que me ensinou com seu exemplo como conduzir uma empresa. Obrigada pai.
Em novembro do ano passado ele fez uma viagem a China e escreveu este ótimo artigo para a revista da ANEL Associação Nacional das Lavanderias, curiosidade interessante no mesmo período a revista Exame PME publicou na coluna do Alberto Saraiva a experiência dele na China. Leia abaixo, vale a pena:

OBSERVAÇÕES DE UMA VIAGEM À CHINA
- por Othon Barcellos

Decidimos Mendonça (Antonio Carlos Mendonça) e eu fazermos uma viagem à China para estreitar relações com o seguimento de lavanderias.
Repetimos assim a iniciativa que tivemos 30 anos atrás em ir aos Estados Unidos e à Europa em busca de novas tecnologias. Naquela época tivemos a preocupação em incentivar o maior número de donos e profissionais de lavanderia em sair do Brasil para se aprimorarem. E assim sob o comando da Anel centenas de profissionais descobriram o mundo das lavanderias nesses países.
Agora a China desponta como uma importante fonte de oportunidades. Fizemos contatos interessantes e com certeza no futuro próximo novidades virão de lá.
Mas o que gostaria de expor nesse primeiro artigo sobre a China foram as impressões que ficaram. Confesso que minha imagem desse país era completamente diferente do que observei.
Pessoas da minha geração (nasci em 1944) acompanharam a tumultuada história da China do século passado criando uma imagem de medo, temor, pobreza, atraso tecnológico, produtos baratos e de segunda classe...os horrores da década de 50 e 60.
O que encontramos foi completamente diferente. O que mais me impressionou não foram o trem bala que levita sobre os trilhos e no qual andamos a 430 Km/h, ou o modernismo da cidade da Shanghai que parece mais pujante do que Nova York com suas centenas de prédios modernos de mais de 80 andares...o que mais nos impressionou foram as pessoas e como elas vivem. Como os chineses organizaram o trabalho, a moradia e alguns costumes que inexoravelmente os levarão à riqueza.
Não vimos pobreza, favelas ou miséria. Vimos simplicidade e comprometimento das pessoas em ter um comportamento de progresso e resultados sobre suas performances.
Algumas experiencias podem ilustrar melhor o que quero dizer:
-perguntamos em uma fábrica se haviam horas extra e qual o critério para decidir como e quem as faria? “bem, disse nosso interlocutor, aqui na China agimos assim: verificamos quem foram as pessoas com melhor performance de produção durante o dia, digamos os 10 melhores num quadro de 50 pessoas, e a esses damos a oportunidade de fazerem horas extra.” (dessa simples observação notamos o seguinte: 1. Os chineses acompanham o performace de cada trabalhador dia a dia e na ponta do lápis. 2. Fazer hora extra é um privilégio.3. Ninguém enrola durante o dia, pois disputa um eventual direito em fazer hora extra.)
-visitamos um Shopping Center no centro de Shanghai com lojas luxuosas e de boa qualidade. Havia pelo menos 500 atendentes trabalhando. Como era um local da cidade valorizado perguntei onde o pessoal simples que trabalhava ali morava. Nosso acompanhante chines logo disse: “bem aqui na China todo mundo mora perto de onde trabalha(ou no próprio trabalho): não perdemos muito tempo com deslocamento. Por exemplo se há esse Shopping aqui o governo faz um conjunto habitacional simples próximo para esse pessoal morar.” “Assim temos mais tempo de fazer uma hora extra ou alguma outra atividade produtiva.”
-uma noite ainda no interior, saimos de uma fábrica e fomos fazer a famosa massagem chinesa. Juro que foi só massagem mesmo...ao voltar para o hotel (que ficava dentro da fábrica) eram 10 horas da noite. Passando por uma loja na rua, vimos uma loja fechada mas com a luz acesa. Como a porta era de vidro Mendonça viu algo que queria comprar. Mexi na porta e estava destrancada embora não se visse ninguém dentro da loja. Ao abri-la e ir entrando vi uma carinha chinesa levantar por trás do balcão acenando para aguardar um pouco. A moça enfiou uma calça rapidinho e veio nos atender sorridente. Fizemos a compra e ela agradeceu e voltou a deitar-se atrás do balcão...ela morava na loja...milhares (serão milhões?) de chineses trabalham e moram em suas lojas. Nessa mesma noite na sequencia chegamos de volta na fábrica, onde estava o hotel, e o portão estava fechado. As luzes da guarita apagadas...logo pensei: nos demos mal... porém nosso chines bateu no vidro da guarita, a luz se acendeu e do fundo da guarita abre uma porta e sai um guarda com cara de sono, reconhece nosso chines, aciona o portão elétrico, entramos e ele fecha de novo. Quantos guardas tem nessa fábrica? Só um e o folguista do domingo. Onde estariam os outros 5 ou 6 que pelos nossos sistemas tem que haver? Com certeza fazendo algum trabalho produtivo em alguma fábrica chinesa. Aí voce pensa: ué cadê aquela mentalidade socialista-comunista? Não é bom para um país criar um monte de vigias para dar empregos? Na China não. Trabalho improdutivo é o mínimo possível...vamos pôr a turma produzindo e fazendo algo que crie riqueza. É assim que os comunistas de lá pensam...
-outra coisa que voce não vê na China são pequenos furtos de lojas, batedores de carteira, assaltante de casas, pequenos furtos no metrô. Não sei como fizeram para acabar, mas voce pode andar com uma nota de 500 yuans no bolso da camisa dando bobeira, dentro do metrô lotado que ninguém vai tirá-la...
O governo/sistema chines privilegia o senso do produtivo, do ganho pelo resultado, do prestígio a quem dá emprego, do se evitar disperdício de tempo perdido em deslocamento lar-trabalho-lar, além da energia gasta no ir e vir. Em Shanghai voce quase não vê onibus como em São Paulo, apenas metrô que não tem mais linhas que o de São Paulo e muitas bicicletas (muitas elétricas), e motonetas para deslocamento curto e rápido. Fábricas, fábricas e mais fábricas. Lojas para todo lado e muita alegria e disposição de todos.
Quanto a máquinas e produtos há de tudo. Desde tecnologia de satélites, aviões e navios até coisas simplórias como briquedos, calçados, roupas baratas, etc. Mas já se vê luxos como Rolls Royces, Audis, relógios Piaget, Patek Philip, etc. Capacidade eles tem e muita.

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